A icônica capa de “Is This It”, em fotografia de Colin Lane

Strokes — “Is This It”: salvar o rock nunca foi tão divertido

Daniel Setti

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Nos 20 anos do melhor álbum de rock do século 21, é hora de revisitar esta fábula tipicamente nova-iorquina, protagonizada por uma inspirada gangue de moços bem-nascidos

Não importa que os Strokes já não importem mais. Eu sempre agradecerei a estes garotos brancos nova-iorquinos bem-nascidos por terem gravado “Is This It”. O disco de 2001 me trouxe de volta ao rock, de onde não deveria ter saído jamais.

Convertido à seita pop-roqueira ainda na infância, eu desvirtuaria por estranhos caminhos no meio da adolescência, quando a fácil impressionabilidade dos jovens músicos me fez presa fácil da armadilha do jazz fusion e do progressivo. Antes da virada do milênio, este desvio de rota felizmente já se corrigira, me levando a redomas mais confiáveis como o funk, o soul, o drum and bass, o jazz dos caras certos, o hip-hop e, claro, a música brasileira. Mas quando a maioridade chegou, rock, meeesmo, tirando um Morphine aqui ou um Jimi Hendrix ali, não tinha lá muito espaço no meu case de CDs (!). Nem no “OK Computer”, do Radiohead, eu prestei a devida atenção à época de seu lançamento, em 1997.

Conto esta vivência pessoal porque sei que possivelmente reverberará na de muitas outras pessoas. Tenho um monte de amigos — músicos ou não, alguns nem sequer roqueiros — que mergulharam de cabeça nas 11 canções perfeitas de “Is This It”. Não resistiram, como não resistiriam Noel Gallagher, Dr. Dre e outros famosos que se tornaram fãs, à sua energia quase que fisicamente palpável e sua complexa simplicidade.

Seguindo parte do ritual de preparação de textos como este, no qual me dedico alguns dias a audições incessantes, obsessivas, da bolacha analisada antes de sentar para escrever — o melhor cenário é sempre uma semana de ininterrupta escuta — , com este álbum ocorreu um fenômeno inédito: seu repertório entrou em minha cabeça quando eu nem sequer ainda havia dado o primeiro play. Ou seja, não tive problemas em mentalizar todas as faixas, lembrando de todos os arranjos e melodias e revivendo o efeito que me causam, sem sequer precisar ouvi-las. Depois, claro, botei “Is This It” para tocar.

Cada década com o seu “Nevermind”

Eu sei, não é assim uma exceção. A minha anedota redentora relacionada ao trabalho de estreia dos Strokes é uma interpretação, afinal, do que rolou com meio que todo o mundo pop. De certa forma, “Is This It” é o “Nevermind” dos anos 2000. E, mais do que uma coincidência, o fato de os dois terem sido lançados nos primeiros anos de suas respectivas décadas é sintomático.

Os Strokes em 2001: Nikolai Fraiture, Julian Casablancas, Fabrizio Moretti, Nick Valensi e Albert Hammond Jr. (Foto: Leslie Lyons)

Por um lado, a ruptura proporcionada pelo Nirvana em 1991 era mais necessária, porque no final dos anos 1980 a situação do rock no mainstream realmente se encontrava em um ponto crítico — hard rock farofa e poperô dominavam as paradas; por outro, no crepúsculo dos 1990, com boybands, nu-metaleiros e Britneys dando as cartas, um R&B cada vez mais tedioso e a eletrônica como um das únicas válvulas de escape de renovação, o rock também precisava de uma injeção de adrenalina para não fazer feio no boom do milênio.

O paralelo deve ser traçado, diga-se, guardando as devidas proporções e considerando os contextos dos surgimentos dos dois discos. Em 1991 a Indústria Fonográfica estava próxima do seu auge financeiro, e até azarões como Kurt Cobain poderiam se tornar uma febre de vendas, alcançando o primeiro milhão de unidades vendidas nos Estados Unidos dois meses após lançarem seus discos. Já em 2001, no meio da revolução engatilhada pelo Napster, o salve-se-quem-puder da nova ordem outorgava a poucos a sorte de se tornar um “fenômeno da internet”.

Strokes foi um dos primeiros deles. A trupe beneficiou-se do vazamento das faixas de seu trabalho de estreia, gerando um burburinho promocional descomunal ao longo dos meses anteriores ao seu lançamento. Mas, por causa das mudanças radicais trazidas pelo formato MP3, demoraria uma década até superar 1 milhão de cópias vendidas, em fevereiro de 2011. Eles não tiraram o Michael Jackson do topo das paradas, como fez o Nirvana, tampouco seu disco figura entre os 30 mais vendidos da história, como é “Nevermind”. Os tempos já eram outros.

Reviravolta cínica

Mas o que aproxima mesmo estes dois lançamentos, numa perspectiva histórica, são os terremotos estético-musicais que causaram. Toda uma década de rock foi pautada em função do sucesso do trio de Seattle, e toda uma outra geração se mediu de acordo com a influência do quinteto de Nova York.

Exaustas de cobrirem Limp Bizkit e já se resignando com uma novidade insossa como o Coldplay, as imprensas musicais norte-americana e britânica soltaram rojões quando o EP demo de “Modern Age”, de 29 de janeiro de 2001, começou a circular pelas redações, trazendo as primeiras versões da adorável faixa-título, “Last Nite”, e “Barely Leal”. As gravações haviam sido feitas ao vivo em estúdio por Gordon Raphael, um produtor semidesconhecido e louco por equipamentos analógicos, em troca de grana para uma passagem para sua cidade, Seattle.

O EP “Modern Age”, onde tudo começou (Foto: Discogs)

Os Messias haviam chegado. A revista inglesa New Music Express ofereceu a versão em download como exclusividade, uma inovação daquele momento, e em pouco tempo os sites de compartilhamento levaram os arquivos a milhões de computadores espalhados pelo planeta. Para delírio dos jornalistas, os integrantes ainda por cima eram todos recém-saídos da puberdade, gatos, com a pele bem cuidada, penteados de destaque e atendendo por nomes pomposos como Fabrizio e Nikolai, e sobrenomes latinos aristocráticos da laia de um Valensi ou um Casablancas. Um conseguia ser “exótico” a ponto de ser brasileiro. E, fundamental: vinham de onde vinham.

Nova York no centro outra vez

Meca das Mecas da música, Nova York ditara os rumos da modernidade sonora em praticamente todo o século 20 — de Charlie Parker a Grandmaster Flash, de Velvet Underground a Chic — mas, fora exceções como Beastie Boys ou Jon Spencer Explosion, havia dado uma bela duma adormecida na década de 1990.

Não por acaso, período em que o prefeito Rudolph Giuliani — ele mesmo, o que depois se tornaria capacho de Donald Trump — instaurou sua política de “tolerância zero”. Suas medidas aplacaram a violência da metrópole mas, zero tolerantes também para com festas e salas de show, arrastaram junto parte considerável da lendária cultura boêmia e musical local. Neste cenário, em que eventos dançantes como Tiswas e Motherfucker eram também foco de resistência, se formatou a cena que teria os Strokes como maior expoente.

Era o início de uma grande reviravolta sonora e comportamental, embora mais cínica do que a promovida pela turma de Seattle. Suscitou rivalidades superficiais, mais fabricadas do que reais, como Strokes × White Stripes (o equivalente não-nova-iorquino), Strokes x Libertines (a inevitável resposta inglesa), Manhattan × Brooklyn, Spin × Rolling Stone. Até o casal-símbolo, Fab Moretti e Drew Barrymore, era mil vezes mais domesticado, afável, e menos perigoso do que um Kurt-Courtney.

Mas não foram poucos os nomes que dali brotaram. Interpol, Walkmen, Yeah Yeahs e até as menos puramente roqueiras LCD Soundsystem e TV On The Radio vieram no rastro dos Strokes, só para citar algumas das surgidas na cidade na primeira metade dos anos 2000. Depois ainda despontariam Vampire Weekend, Grizzly Bear, MGMT e outras. Nova York era novamente o centro do mundo pop, com o epicentro inicialmente fincado em Manhattan e depois migrando ao Brooklyn.

Como efeito colateral a ambos, da mesma forma que o grunge gerou o Silverchair e o Creed, o “novo rock” nova-iorquino do século 21 tem sua parcela de culpa indireta. Pela inspiração que infringiu à onda emo e a toda classe de bundões sem imaginação, que fizeram com que, no final daquela década, já não suportássemos mais o revival do pós-punk. O que era vanguarda virou um modelo cansativo: todas as batidas deveriam ter a “urgência” disco-rock, os vocais eram obrigatoriamente chorosos, os teclados grandiloquentes, e as letras que não fossem meio engraçadinhas, irônicas, eram gongadas.

Berço esplêndido

A história da formação dos Strokes serviria de roteiro a uma destas séries hipsters ambientadas na Grande Maçã. Quiçá uma versão masculina de “Girls”, mas com os personagens dispondo das contas bancárias das protagonistas de “Gossip Girl” ou “Sex And The City”. Quem sabe, então, um “High Maintenance” com maconha mais cara.

Filho de John Casablancas, dono da agência de modelos Elite, e da ex-manequim dinamarquesa Jeanette Christiansen, o futuro vocalista Julian Casablancas era uma espécie de repetente fodão na escola particular Dwight, colada ao Central Park; Nick Valensi, o favorito das garotas e depois guitarrista, virou seu BFF já na adolescência, enquanto o soon-to-be baterista Fabrizio Moretti, filho de italiano com brasileira nascido no Rio de Janeiro, cumpria na turma o papel do menino certinho e discreto que quer se encaixar.

Nikolai, Albert, Fabrizio, Julian e Nick, Londres, 2001 (Foto: Fader)

Julian achou uma boa ideia recrutar dois amigos de infância de igual pedigree social, Nikolai Fraiture (baixo), que conhecia do — atenção — Liceu Francês de Nova York e, posteriormente, já em 1998, Albert Hammond Jr., chapa dos tempos em que estudou num — uau — internato na Suíça. O bem-relacionado clã estava completo.

A aparição de Albert trouxe não apenas a segunda guitarra, elemento importantíssimo na sonoridade estroqueana, como também o direcionamento de figurino ultracool que tanto marcaria o grupo. O guitarrista compareceu “vestido de Stroke” na audição em que conseguiria a vaga, impressionando os demais. Também fez a alegria dos companheiros quando seu pai, o cantor setentista inglês Albert Hammond, pagou pelo equipamento de ensaio.

Hype em nível inédito

Entre o primeiro show, a 14 de setembro de 1999 na casa noturna Spiral, e a assinatura do contrato com o Rough Trade, mais mítico dos selos independentes britânicos, foram poucos e loucos meses. O boca-a-boca causado pelas apresentações em picos como o Mercury Lounge se propagou graças à então incipiente ferramenta do hype da internet.

A badalação foi tanta que eles logo perceberam que poderiam passar dois anos recusando ofertas para aparecer na televisão e batendo o pé sobre a não obrigatoriedade de rodar videoclipes. Por decisão da banda, soberbamente ciente da expectativa que estava causando, este grande début ocorreria nada menos que no “Saturday Night Live”, já em 19 de janeiro de 2002, com Jack Black apresentando e tudo mais.

“Só precisei de dez segundos escutando o EP para contratá-los”, conta Geoff Travis, dono da Rough Trade, no livro “Meet Me In The Bathroom” (2017), de Lizzy Goodman, sobre a cena nova-iorquina dos anos 2000. Então vivendo um período de relativo declínio, operando mais como booker de shows do que como dono de gravadora, Travis renasceu para o mundo indie com a nova descoberta.

Num piscar de olhos já estavam a bordo também Jim Merlis, ex-assessor de imprensa do Nirvana, e o manager porra-louca Ryan Gentles, caso raro de agente a ostentar a mesma idade e sede de farra dos integrantes da banda para a qual presta serviços. Sobre a mesa já repousava um contrato da RCA — que venceu a disputa com várias outras gravadoras — para o mercado norte-americano. Com apenas 20 mil dólares de orçamento, entre março e abril de 2001 Julian e colegas se trancaram no Estúdio Transporterraum, o mesmo onde fora registrada a demo, do então pouco conhecido Mark Ronson.

Depois de uma tentativa frustrada com o gabaritado produtor inglês Gil Norton (do mítico “Doolittle”, lançado pelos Pixies em 1989), mandaram buscar mais uma vez Gordon Raphael. Sem usar mais de 11 canais em nenhuma faixa e distorcendo a voz de Julian em um amplificador de guitarra, ele garantiu que o material não diferisse muito diferente do EP. Era um som quente, lo-fi, incomum na virada do milênio, e que depois seria imitado à exaustão. Um burocrata da RCA chegou a chiar após ouvir a versão final, chamando-a se amadora, mas a história mostraria quem estava com a razão.

Enfim, nas lojas

Em 30 de julho “Is This It” saía exclusivamente na Austrália — aproveitando turnê do grupo pelo país — , chegando ao Reino Unido no final de agosto e aos EUA em 9 de outubro. O lançamento estava previsto inicialmente para 25 de setembro, mas foi adiado por causa dos ataques às Torres Gêmeas, que Albert e Julian viram ao vivo da janela do apartamento que dividiam. Atordoados, marcaram ensaio na mesma noite. Após acompanhar os louváveis trabalhos dos policiais posteriormente ao atentado, a banda decidiu tirar da edição norte-americana em CD a garageira “New York City Cops”, sobre o assassinato de um imigrante guineano pelas mãos da polícia nova-iorquina, e cujo refrão é “gambés de Nova York não são muito espertos”. “When It Started” entrou em seu lugar.

A capa alternativa de “Is This It”, que saiu nos Estados Unidos e no Brasil

Devido ao vazamento das tracks, “Is This It” foi um dos pioneiros entre os discos que o público ouviu durante meses sem conhecer a capa. Com o sucesso que aquelas músicas faziam antes mesmo de seu lançamento, a responsabilidade que pesava sobre sua representação visual era grande. E foi correspondida em grande estilo pela imagem do fotógrafo Colin Lane. Nas curvas e na luva negra da modelo nua, Lane captou o espírito dos Strokes, traduzindo num clique a excitação atrevida, sensual e carismática dos sons por eles produzidos.

Dá até pena de quem teve que comprar a primeira edição lançada nos Estados Unidos que, por causa de um exagerado temor dos envolvidos ao conservadorismo do país, saiu com capa alternativa protagonizada por partículas subatômicas e, claro, infinitamente menos interessante. O público brasileiro também foi obrigado a levar para casa esta versão (com o prêmio de consolação da inclusão de “New York City Cops” no repertório).

Canalizando Nova York

No fabuloso livro “Rip It Up And Start Again” (2005), de Simon Reynolds, o produtor inglês Martin Rushent, conhecido por maravilhas do synthpop como “Dare!”, do Human League (1981), revela que um dos segredos para se criar um grande álbum pop é pensar as gravações de forma que o ouvinte seja capaz de memorizar e cantarolar não só os vocais, mas todas as partes do arranjo.

“Is This It” é um dos poucos discos que passariam no crivo de Rushent segundo este critério, do começo ao fim. Uma simples audição de seus 36 minutos e 27 segundos é suficiente para que se interiorize cada ritmo básico e decidido de Fab — um importante resgate das batidas hipnoticamente dançantes da era new wave -, o baixo cálido e expressivo de Nikolai (na faixa-título ele emula o estilo de Paul McCartney) e, principalmente, as guitarras; tanto as mais convictamente roqueiras (Nick) quanto as mais processadas por efeitos e de melodias grudentas (Albert). Vale notar que a entourage do combo incluía JP Bowersock, professor de guitarra de Albert, idolatrado pelos rapazes a ponto de ser creditado como “guru” e fotografado como “um dos nossos” no encarte (juntamente com os igualmente não-integrantes Raphael e Gentles).

Com tantos elementos atraindo a nossa atenção, quase nem precisava que as composições ou a voz que as entoam fossem tão boas. O “problema” é que eram. Apreciador da geração Seattle e de entidades alternativas como Guided By Voices, o grupo acabou soando na verdade como uma versão terceiro milênio dos ícones das cenas proto-punk e punk da Nova York dos anos 1970. Seus integrantes não estavam especialmente familiarizados com nomes daquela geração, como Television, e Nick achava o venerado antro CBGB um lugar “nojento”. Julian até que estava em sua fase de imersão em Velvet Underground na época da concepção do álbum. Mas, mesmo assim, ele cuidou para que as composições — que assina sozinho — falassem de relacionamentos por meio de prosa e léxico atualizados. Ou seja, as letras eram claramente identificadas com a linguagem dos jovens de vinte e poucos anos do começo do século 21, e não dos anos 1970.

Fato é que, ainda que de forma involuntária, se produziu alguma espécie de canalização de um certo “espírito de Nova York”, com Lou Reed, Blondie e até algo de Ramones fornecendo genes para o DNA estroqueano. Com a diferença — e uma importante diferença — que nenhuma destas “vacas sagradas” jamais reuniu tantas gemas pop roqueiras irresistíveis em um mesmo álbum. Julian canta como um Lou mais ágil e despretensioso, sobretudo em maravilhas da talha de “Modern Age”, cuja melodia vai nos cativando numa calma que contrasta com o galope apressado do surdo de Fabrizio. “Quando fizemos ‘Modern Age’, sabíamos que tínhamos encontrado o nosso som; depois fizemos ‘Last Nite’”, conta Nikolai em “Meet Me In The Bathroom”.

Recebendo a “benção” de Lou Reed em imagem que foi capa da revista Filter, em fevereiro de 2004 (Foto: Steven Dewall)

E não para. “Soma”, com sua cadência deliciosa, “Barely Legal” — do verso “para constar, fica só entre você e eu”, “Some Day”, de ritmo híbrido entre a Motown e os Pretenders (“sua cabeça não está legal”, canta Julian). É uma melhor do que a outra. Quando se chega no maior hit da banda, “Last Nite” (o segundo single, 5º lugar na parada alternativa da Billboard), um dos grandes hinos da década, lá já se foram sete canções irrepreensíveis. E ainda sobram outras quatro que não poderiam ter ficado de fora de jeito nenhum, como “Hard To Explain” (o primeiro single, lançado ainda em junho) e “Trying Your Luck”, outras duas pontuadas por guitarrinhas infernalmente grudentas. Isso sem contar os sensacionais finais bruscos das faixas, uma piada interna disfarçada de autossabotagem que acabou virando elemento estilístico a ser estudado.

Legado e “maldição”

“Is This It” chacoalhou a música pop e abriu portas para artistas que idolatravam os Strokes e que, talvez melhor preparados para a fama que eles, venderiam mais e chegariam a multidões mais vastas. Como por exemplo Kings Of Leon, pupilos que convidariam para abrir os shows da turnê do segundo trabalho — o ótimo “Room On Fire” (2003) — , ou os Killers, fãs confessos do grupo.

Entre as figuras carimbadas da cena nova-iorquina, o LP é tratado como uma unanimidade. Até o egocêntrico, competitivo e ranzinza James Murphy, do LCD Soundsystem, autor de uma das obras-primas do período (“Sound Of Silver”, de 2007), defende que o trono de álbum da década seja ocupado por “Is This It”. Como efeito colateral, nascia uma espécie de “maldição” que, vinte anos depois, a banda não chegou perto de quebrar, sabendo que jamais igualará seu primeiro trabalho em qualidade e repercussão.

Já na altura da produção do terceiro disco, “First Impressions Of The Earth” (2005), o desgaste do jet set e a pressão por ser o principal nome do “movimento” abalariam as estruturas do quinteto, que prosseguiria ente hiatos cada vez mais longos — “The New Abnormal”, LP de 2020 premiado com Grammy de melhor disco de rock, é apenas o sexto trabalho em duas décadas — shows sonolentos e projetos paralelos difusos.

Julian passou a odiar turnês, porque não conseguia compor entre voos e hotéis. Albert desenvolveu uma caricata trajetória de roqueiro junkie, passando por heroína, cocaína e cetamina. Teve que sofrer intervenção de família e amigos, o que quase matou a banda de forma definitiva. Mas “Is This It” permanece como o melhor disco de rock do século 21 e — por que não? — um dos maiores de todos os tempos.

* Publicado originalmente no site Popload a 30 de julho de 2021. Contém trechos de texto publicado originalmente publicado no blog Lá Vem O Mala da Lista a 21 de outubro de 2009

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